12 de jan. de 2015

Ligação







 - Alô?
- Oi.
- Sua voz tá estranha. Tudo bem?
- A gente precisa conversar. Ou sei lá, eu preciso. E não, não tá tudo bem. Eu achei que estava, mas pra variar você veio me surpreender com essas inconstâncias.
- Tudo bem. O que você precisa falar? O que eu fiz dessa vez?
- Nada. Sumiu do nada de novo. De novo não fez nada. Eu não sei mais o que fazer em relação a isso tudo. Eu nem sei ao certo o que a gente é.
- ...
- Eu não aguento mais isso! Você me faz um bem danado e aí do nada desaparece. Não pro mundo. Pra mim. Se cala. Meu Deus do Céu! Você não percebe ainda o que causa em mim?
- Me diz, por favor, que você não tá chorando. Me diz. 
-...
- Eu tô tentando diminuir os riscos. Eu não sei o que a gente é. Não sei também. Você é uma droga. Um vício. Mas eu não sei ao certo se isso é bom. Somos amigos, certo? Éramos pra ser só isso. 
- Claro que sim! Você acha que eu não sei? Que eu não penso nisso toda porcaria de madrugada a qual eu não consigo dormir pensando em quando essa merda toda vai acabar ou vai acabar comigo? EU SIMPLESMENTE NÃO TÔ CONSEGUINDO. TÔ NO MEU LIMITE.
- Se você, que é tão forte, tá assim, tão madura, tão tudo isso, e eu que não consigo nem me entender vou entender como? Realmente tá achando que é só você que tá assim?
- Sinceramente? Tô. Achei que gostasse de mim tanto quanto eu gosto de você. Ou pelo menos uma fração, coisa que não é pouco. Você não entende, não é? Eu já te disse tantas vezes, de tantas maneiras, e você fica aí se negando a entender. A ceder. Por favor! Eu realmente não sei mais o que fazer. "Só respirar fundo e continuar". Juro que tô tentando. Fiz uma promessa pra mim mesma de que não ia mais quebrar. Me despedaçar. Prometi pra mim que ia aprender a lidar com tua ausência. E olha, vou disparar tudo que eu tenho pra falar como uma metralhadora mesmo, porque afinal de contas eu tô até a alma cheia de sentir tudo isso. Você queria o que? Que eu admitisse que morro de ciúmes cada vez que você sai? Cada vez que eu vejo uma garota bonita falando com você? Eu já admiti, pois bem. Quer que eu te diga que você foi a melhor coisa que me aconteceu? Já disse também. Te disse que você me faz tão bem quanto mal. Te disse que você é minha calma. Te disse tudo isso. Disse que gosto mais de você do que faz bem pra mim. Mais do que deveria. Mas no fim é isso, não é? Você se joga de cabeça em uma coisa da qual não tem certeza nenhuma. Comecei isso sabendo que poderia me machucar. Pensando que, dessa vez tudo seria diferente. E foi. A culpa é minha também. Te conheci assim, afinal. Fui te decifrando aos poucos e te vendo com teus defeitos e qualidades, com tua teimosia, com teu orgulho do tamanho do mundo. E aceitei, não foi? Aceitei por aceitasses minhas crises. Se não era pra me envolver nisso, não precisa ser tão legal. Não precisa continuar. Não precisava demonstrar que gostava. Que fosse um filho da mãe desde o começo e que me fizesse ficar mal de cara, e não assim desse jeito. E afinal de contas, você não fez nada. Você nunca faz nada, não é? Eu que faço. Eu que tenho crises de ciúmes, de existência, de insegurança, de loucura. Eu que piro total, eu que provoco, eu que começo. Não tô colocando palavras na tua boca. Tô tirando da minha. E sinceramente? Não importa realmente o que você tem a dizer agora. Eu só queria que ouvisse. Depois, se ainda tiver disposto, se ainda tiver coragem, se ainda tiver alguma coisa. Me chama. Você tem meu telefone, sabe os lugares que frequento, conhece meu endereço, e tem minhas redes sociais. Procura. Mas antes disso, pensa bem no que vai me dizer. Cansei de palavras cifradas. Códigos, indiretas. A criança cansou de brincar.
Obrigada pelas coisas boas. Só...pensa, tá?
Preciso desligar agora.

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