Quando será que a gente cresce?
Será que é quando passamos a preferir os livros sem figuras? Ou quando nos
apaixonamos? Ou quando encaramos um problema sem chorar e pedir colo pra mãe?
Será que sabemos que estamos crescidos quando nos olhamos no espelho e
parecemos mais velhos? Ou quando assumimos responsabilidades? Afinal, o que
significa crescer?
Aumentar de tamanho, idade,
responsabilidade, maturidade, problemas. Alguns dizem que gente crescida não
precisa mais dos pais e é independente, se basta e lida sem problema nenhum com
as complicações de uma vida adulta.
Eu duvido realmente disso. Além
de duvidar que crescemos totalmente, a questão de ser gente grande é não rir de
coisas bobas? Nunca mais pedir colo? Nunca dar o braço a torcer? Nunca quero
ser gente grande então, nunca.
Uma coisa é certa: crescer dói.
E dói bastante. Rasga, arranha, e olha, parece que nunca cicatriza. E depois
que você começa, é impossível parar, não é algo que dê pra reverter. A vida vai
ficando mais pesada, e temos que ser mais fortes, senão não vencemos nós
mesmos.
É mais ou menos assim, a vida
nos dá uma responsabilidade maior conforme vamos ficando mais velhos, ou
conforme o necessário. Algumas crianças tem que ser gente grande muito antes do
que seria o natural das coisas, mas isso faz com que elas se tornem
sobreviventes. Todos temos traumas passados, certo? Brigas horríveis em casa,
bullying, um familiar alcoólatra, uma
perda muito importante, e outra diversidade de coisas que passamos e que nos
roubaram um pouco da inocência. Um próprio coração partido leva a nossa criança
interior, um pouco, e dói que é o raio, e é uma consequência de se estar
crescendo. Ter que ser alguém na vida, outra coisa que nos deixa loucos. É bem
radical, pensa, você tem um mês pra escolher o que vai fazer pro resto da sua
vida. Pro resto da sua vida... A única certeza que temos em relação a isso é
que você vai viver.
Bem engraçado isso, aliás. O que
você vai ser quando crescer? Os engraçadinhos dizem que vão ser grandes, mas
nem sempre quem cresce é grande, pensa nisso. No sentido literal e filosófico.
É uma pergunta bem idiota e desnecessária, eu acho. Não devemos ser o que,
devemos nos tornarmos alguém: nós. Eu. Vou ser eu quando crescer, ué. Que coisa
mais tosca, tanta coisa interessantes pra se perguntar, tipo o signo. A cor
favorita, as músicas que mais gosta, experiências insanas... Entendeu, né?
Temos a urgência de crescer. As
meninas querem fazer quinze anos o mais rápido possível como se fosse acontecer
uma transformação digna dos filmes da Barbie. Os meninos querem fazer dezoito
como se isso fosse transformá-los em homens. Meus amores, vocês precisam de
mais do que uma carteira de habilitação ou uma maioridade para serem homens,
lidem com isso. E meninas, não pensem que estou desmerecendo o momento, de modo
algum! É que enquanto estabelecermos limites pra gente, nunca estaremos
satisfeitos. São como níveis. Alcançamos o primeiro e aí queremos o segundo, o
terceiro e sucessivamente, sem nunca nos contentarmos.
Assim como tudo isso é crescer,
é um processo, que se esconde em momentos, não em uma marca. Não em um diploma
ou um carro. Não em dinheiro ou um coração de pedra.
Acho que crescemos quando
assumimos nossos erros e nossos acertos. Quando damos a cara pra bater e vamos
atrás da nossa felicidade e dos nossos objetivos. Acho que ser adulto é isso.
Mas não tem a ver com perder sua criança não, sem loucuras, por favor. Acho que
os melhores adultos são aqueles que guardam a esperança, inocência e verdade de
uma criança. Não dá pra lidar com a realidade se não tivermos vontade e uma
alegria na alma.
Pedir perdão é uma prova de
crescimento e amadurecimento enorme. Porque perdoar não é fácil não, na teoria
muito mais do que na prática, como tudo. Entender e saber a hora de se retirar
também. Mesmo que desmorone depois, sozinho, que peça ajuda, consolo, colo,
tentar tornar menos doloroso pra todas as partes é um ato de gente grande, e de
gente que ama.
Imagino que tudo esteja
interligado ao amor, também. Mas tem que haver a compreensão de que só o amor
nunca é o suficiente. Nunca. Indispensável, a base para o resto, mas nunca só
ele. O amor é frágil, imagino. E simples, nadinha complicado. As pessoas que
são complicadas e complicam tudo. Ainda mais aquelas que ainda não cresceram.
Mas todo mundo cresce, também.
Quer dizer, é o que esperamos que aconteça. Senão acontecer, é um problema bem
grande, e não é bom se manter perto de gente imatura e egoísta. Machuca gente
grande também.
A gente vai lidando né. Vai
lidando com gente que não cresceu, vai lidando com gente que cresceu demais,
com meio termo – desconfio que seja o pior – lida com a gente...
Lida até o ponto de te
prejudicar demais. Crescer significa tomar atitudes e decisões. Significa
mandar embora o que só pesa, mesmo que doa. Significa deixar as janelas do
coração abertas pra que o ar entre.
Não sei bem também o que é
crescer, ainda estou no caminho. Estamos, espero, é um processo doloroso e
demorado, e que cobra da gente às vezes mais do que a gente acha que pode
suportar. Mas a gente pode, lembra do que acontece quando acreditamos.
E quando não der pra lidar,
repasso um conselho que recebi: escuta uma boa música, faz um bom café e
escreve.
Ou sei lá, adapte esse conselhos
de acordo com os seus gostos. Crescer deve ser isso também, interpretar e
modificar conselhos.
Quando eu descobrir totalmente
eu te conto, pode ser?
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