26 de jun. de 2016

Papo de gente grande

               

Quando será que a gente cresce? Será que é quando passamos a preferir os livros sem figuras? Ou quando nos apaixonamos? Ou quando encaramos um problema sem chorar e pedir colo pra mãe? Será que sabemos que estamos crescidos quando nos olhamos no espelho e parecemos mais velhos? Ou quando assumimos responsabilidades? Afinal, o que significa crescer?

                Aumentar de tamanho, idade, responsabilidade, maturidade, problemas. Alguns dizem que gente crescida não precisa mais dos pais e é independente, se basta e lida sem problema nenhum com as complicações de uma vida adulta.

                Eu duvido realmente disso. Além de duvidar que crescemos totalmente, a questão de ser gente grande é não rir de coisas bobas? Nunca mais pedir colo? Nunca dar o braço a torcer? Nunca quero ser gente grande então, nunca.

                Uma coisa é certa: crescer dói. E dói bastante. Rasga, arranha, e olha, parece que nunca cicatriza. E depois que você começa, é impossível parar, não é algo que dê pra reverter. A vida vai ficando mais pesada, e temos que ser mais fortes, senão não vencemos nós mesmos.

                É mais ou menos assim, a vida nos dá uma responsabilidade maior conforme vamos ficando mais velhos, ou conforme o necessário. Algumas crianças tem que ser gente grande muito antes do que seria o natural das coisas, mas isso faz com que elas se tornem sobreviventes. Todos temos traumas passados, certo? Brigas horríveis em casa, bullying, um familiar alcoólatra,  uma perda muito importante, e outra diversidade de coisas que passamos e que nos roubaram um pouco da inocência. Um próprio coração partido leva a nossa criança interior, um pouco, e dói que é o raio, e é uma consequência de se estar crescendo. Ter que ser alguém na vida, outra coisa que nos deixa loucos. É bem radical, pensa, você tem um mês pra escolher o que vai fazer pro resto da sua vida. Pro resto da sua vida... A única certeza que temos em relação a isso é que você vai viver.

                Bem engraçado isso, aliás. O que você vai ser quando crescer? Os engraçadinhos dizem que vão ser grandes, mas nem sempre quem cresce é grande, pensa nisso. No sentido literal e filosófico. É uma pergunta bem idiota e desnecessária, eu acho. Não devemos ser o que, devemos nos tornarmos alguém: nós. Eu. Vou ser eu quando crescer, ué. Que coisa mais tosca, tanta coisa interessantes pra se perguntar, tipo o signo. A cor favorita, as músicas que mais gosta, experiências insanas... Entendeu, né?

                Temos a urgência de crescer. As meninas querem fazer quinze anos o mais rápido possível como se fosse acontecer uma transformação digna dos filmes da Barbie. Os meninos querem fazer dezoito como se isso fosse transformá-los em homens. Meus amores, vocês precisam de mais do que uma carteira de habilitação ou uma maioridade para serem homens, lidem com isso. E meninas, não pensem que estou desmerecendo o momento, de modo algum! É que enquanto estabelecermos limites pra gente, nunca estaremos satisfeitos. São como níveis. Alcançamos o primeiro e aí queremos o segundo, o terceiro e sucessivamente, sem nunca nos contentarmos.

                Assim como tudo isso é crescer, é um processo, que se esconde em momentos, não em uma marca. Não em um diploma ou um carro. Não em dinheiro ou um coração de pedra.

                Acho que crescemos quando assumimos nossos erros e nossos acertos. Quando damos a cara pra bater e vamos atrás da nossa felicidade e dos nossos objetivos. Acho que ser adulto é isso. Mas não tem a ver com perder sua criança não, sem loucuras, por favor. Acho que os melhores adultos são aqueles que guardam a esperança, inocência e verdade de uma criança. Não dá pra lidar com a realidade se não tivermos vontade e uma alegria na alma.

                Pedir perdão é uma prova de crescimento e amadurecimento enorme. Porque perdoar não é fácil não, na teoria muito mais do que na prática, como tudo. Entender e saber a hora de se retirar também. Mesmo que desmorone depois, sozinho, que peça ajuda, consolo, colo, tentar tornar menos doloroso pra todas as partes é um ato de gente grande, e de gente que ama.

                Imagino que tudo esteja interligado ao amor, também. Mas tem que haver a compreensão de que só o amor nunca é o suficiente. Nunca. Indispensável, a base para o resto, mas nunca só ele. O amor é frágil, imagino. E simples, nadinha complicado. As pessoas que são complicadas e complicam tudo. Ainda mais aquelas que ainda não cresceram.

                Mas todo mundo cresce, também. Quer dizer, é o que esperamos que aconteça. Senão acontecer, é um problema bem grande, e não é bom se manter perto de gente imatura e egoísta. Machuca gente grande também.

                A gente vai lidando né. Vai lidando com gente que não cresceu, vai lidando com gente que cresceu demais, com meio termo – desconfio que seja o pior – lida com a gente...

                Lida até o ponto de te prejudicar demais. Crescer significa tomar atitudes e decisões. Significa mandar embora o que só pesa, mesmo que doa. Significa deixar as janelas do coração abertas pra que o ar entre.

                Não sei bem também o que é crescer, ainda estou no caminho. Estamos, espero, é um processo doloroso e demorado, e que cobra da gente às vezes mais do que a gente acha que pode suportar. Mas a gente pode, lembra do que acontece quando acreditamos.

                E quando não der pra lidar, repasso um conselho que recebi: escuta uma boa música, faz um bom café e escreve.

                Ou sei lá, adapte esse conselhos de acordo com os seus gostos. Crescer deve ser isso também, interpretar e modificar conselhos.


                Quando eu descobrir totalmente eu te conto, pode ser?

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