8 de mar. de 2017

Finalmente

 São exatas duas e dezessete da tarde de uma sexta-feira e eu tô escrevendo isso pra que você saiba que me destruiu. Não, melhor, acho que estou escrevendo tudo isso para que finalmente eu possa dizer: eu me libertei.
A última amarra que me segurava pra baixo foi rompida pouco tempo atrás, quando a culpa que achei que não habitava mais em mim fez minhas mãos tremerem e meu coração palpitar de uma forma desagradável.
Foi quando eu me dei conta de que ainda me culpava. Foi, ao contar a mesma história pela centésima vez, que percebi que grande parte dos meus problemas do último ano tinham a ver com o perdão e compreensão que eu nunca tinha realmente dado a mim mesma. Com o colo que neguei pra pessoa que mais precisa de mim no mundo todo.
Porque eu passei os últimos catorze meses achando que não era suficiente ou digna de ser amada, de ser gostada, querida. Achando que era uma anomalia social e que só existia de modo a ajudar as pessoas a encontrarem os seus caminhos, e nunca como um alguém merecedor de ter o meu próprio, brilhante das estrelas que tanto gosto de contar.
Sei que a culpa não é totalmente sua, ou majoritariamente sua. Grande parte da culpa é do que fazemos com as nossas meninas desde antes mesmo de elas nascerem. Sim, nós, nós todos contribuímos para que em algum ponto da vida, as meninas se sintam indignas de coisas boas, de amor, ou até mesmo, que em certo ponto elas não reconheçam o real significado dessa palavra.
Amor, do latim amare, amor, significa afeto, desejo, querer o bem de alguém.
Mas alguns vejam mais como o Valentim de Os Instrumentos Mortais: amar é destruir, e amar é ser destruído. Amor como submissão. Sofrimento.
Fomos nós que colocamos na cabeça das nossas meninas que elas precisam ser boas o suficiente. Bonitas o suficiente. Inteligentes o suficiente – e não muito.
Você também foi uma vítima. E eu, mais ainda. Vítima de ser mulher. Ter nascido com o cromossomo repetido, e aí, com diversas implicações sobre o que deveria ser ou deixar de ser.
A culpa vem dentro do pacote?
O que diabos estamos fazendo com as nossas meninas?
Eu me tornei um monstro por amar e ter vontades?
Mas depois de tanto tempo, de tanto procurar o erro presente em mim, finalmente o encontrei: meu erro foi ouvir o que me disseram.
Meu erro foi, mesmo repetindo diversas e incontáveis vezes que temos que tirar a culpa das costas das nossas meninas, atribuir a mim mesma um peso que não consigo e nem devo carregar.
Porque no fundo, eu não havia me perdoado.
Nem acreditado que poderia, deveria, merecia algo melhor. Mais do que um amor meia-boca, com gosto de café frio e esquecido. Merecia mais do que palavras bonitas e vazias, uma divisão de atenção e importância. Merecia mais, muito mais, do que você, mas principalmente, do que eu me dei durante todo esse tempo.
E essa não é uma conversa sobre reciprocidade.
Essa é uma conversa, sobre eu ter, com todo o meu coração, e todas as minhas lágrimas, finalmente percebido o que vivia dizendo para as meninas.
Eu não sou culpada. Nunca fui.
Temos que parar com essa mania de sempre achar um culpado para algumas coisas que não necessitam de condenação. Além de tudo, quem somos nós para julgar e definir o que é certo ou errado? O que faz de alguém uma boa pessoa ou o contrário.
E termino esse desabafo, constatando que me sabotei por muito tempo. Por não sabendo ao certo o que o amor era, achar que não o merecia.
Se você, assim como eu, não se acha digna de um bom amor, ou pior, aceita o que te dizem que é amor, mesmo você sabendo que não é o suficiente nem o certo: volte ao início e leia mais uma vez.
Você não é culpada.
Você é boa o suficiente.
Você merece ser amada.
Você é importante.

Você merece mais do que um amor com gosto de café frio e esquecido.

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Que nesse dia da mulher, consigamos tirar as culpas que não são nossas das nossas costas. Força, resistência!

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